Carta aberta a minha (ex?) melhor amiga - Dropando Ideias

Sim, eu meio que roubei o título do post da Isabela Freitas. É que eu estava em casa meio sem saber o que fazer, ainda bem magoada pelo que você me disse, e joguei “ex melhor amiga” no Google. Sei lá porque disso exatamente, mas fiz. E acabei achando o post dela, li e me identifiquei e pensei: tenho que escrever a minha também. Sei que você nem lê aqui, mas não faz mal; essa carta é muito mais pra eu escrever do que pra você ler. Mas se o fizer, manda um oi pra sua mãe.

Se bem te conheço, Bob, você vai com toda certeza dizer que eu estou exagerando na minha sofrência. Mas, é. Eu sou dramática, sentimental e prezava muito nossa amizade. Sempre prezei. Foi bem triste descobrir no final que só eu ainda prezava, foi mais triste ainda descobrir que ia ter um final.

Você lembra quando a gente teve a ideia de fazer a faculdade no mesmo lugar? Eu sei que eu sempre fui a amiga que lembrava das histórias do passado, mas gosto de perguntar se você se lembra, pois quando a resposta é Sim eu fico meio emocionada. De alguma forma significa que foi especial pra você também.

Eu lembro. Era quinta ou sexta série, a gente estava revezando nos balanços. Eu lembro de fingir que estava contando o seu tempo só pra ninguém vir contar de verdade e você poder balançar mais. E você fazia o mesmo por mim. Você me perguntou se eu sabia o que ia ser quando crescer, naquela época se não me engano eu queria ser astronauta. Você só sabia que queira cuidar de animais de alguma forma.

E você disse “quando a gente for pra faculdade a gente vai ficar juntas também, né?” e eu disse que sim. Na minha cabeça parecia um sim pra mais um monte de coisas, pelo visto só na minha mesmo.

Achei que era um sim pra a gente se encontrar sempre num barzinho qualquer pra conversar sobre o sentido da vida. Achei que era um sim para as conversas em cima dos skates na frente da sua casa. Achei que era um sim pra ser dupla sempre nos trabalhos de escola. Achei que era um sim pra todas as vezes que você me fez jurar que eu não deixaria mais você chegar perto daquele cara.

Sua mãe me disse o quão triste você ficou quando eu fui embora pra outra cidade por um tempo. Eu fiquei muito triste também, e na real me privei de fazer grandes amizades por lá porque achava que estava te traindo. É, sou meio estranha sim. Tentei procurar os emails que a gente trocava contando as novidades. Lembro que foi por lá que você me contou que achava que ia dar seu primeiro beijo – na época era o evento do século -, mas que acabou não dando em nada. Infelizmente não achei os emails, mas achei as cartas; guardadas a muito tempo na minha caixa de lembranças. Que bom que você sempre foi muito mais offline do que online, pra equilibrar nossa relação.

Falando nisso, me desculpe por todas as idas na praia e trilhas que eu me recusei a ir com você. Eu sempre admirei a sua ligação com a natureza, e de uma forma boa sempre tive inveja de como você podia não se desesperar quando um besouro entrava no quarto. Nossas diferenças, que não são poucas, nunca foram problema pra mim. Pelo contrário, eu aprendi com você tanta coisa… Sempre quis te seguir (pra falar a verdade, ainda quero) pra qualquer coisa nova, as vezes eu só tinha medo.

Pede desculpa pra sua mãe e irmã por toda o barulho que a gente fez e madrugada, rindo? Eu sempre me senti parte da sua família, até porque pra mim você era meio que uma irmã adotiva, é triste pensar que agora eu perdi eles também. Ah, e pede desculpa também por toda a grana que ela gastou pra me alimentar, eu sei que como demais e ainda por cima adorava nossos “momentos gordice” bancados por ela.

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A gente fez muita merda também, né? Caralho. Como eu disse no carro, naquele dia saindo da Vila de carona com a minha mãe: só role errado. Mas a parte boa é que das histórias ruins que a gente mais da risada. A gente foi muita coisa juntas. Fomos caçadoras de tesouros, sereias, fãs loucas de Jonas Brothers, foras da lei, assaltadas, detetives, alunas do High School Musical, espiãs, fadas… Nossa, a gente foi tudo que a gente queria ser, sem mesmo sair de uma ilhazinha.

Você lembra quando seus cachorros ficaram doentes? Você disse que nunca mais ia ter cachorro nenhum depois que eles partiram. Eu duvidei, ainda não sei se estou certa ou errada, mas sei que eu estava lá de qualquer forma, tentando fazer você não pensar nisso e falando uma bobagem qualquer quando eu via que seus olhos estavam beirando um vazamento. Eu estava lá inúmeras vezes pra te consolar, falar todas as situações aqui não seria muito educado, eu acho.

Juro que ainda não chorei nem um pouco escrevendo isso tudo, mas acho que muito provavelmente quando eu deitar na cama vou desatar a chorar. Ainda mais quando eu tenho bem a vista o Big Ben que você trouxe pra mim. Eu chorei mesmo foi quando você me mandou aquela mensagem.

Chorei porque é muito estranho você “virar adulta”, aonde você não tem certeza de quase nada, e uma das poucas coisas das quais você tinha certeza fechar a porta na sua cara. Não me lembro de alguma vez a gente ter prometido ser amigas pra sempre, você lembra? Mas acho que eu meio que li nas entrelinhas, sei lá.

Eu só que eu queria dizer que eu sinto muito, mais por você do que por mim. Sinto muito porque mesmo com tanto tempo de amizade você não aprendeu uma coisa sobre nós que eu aprendi, e muito bem. Não somos peças – quadradas e exatas, complementares – que se encaixam, nunca fomos. A gente sempre esteve mais pra algo tipo as receitas estranhas da sua mãe, com ingredientes completamente diferentes e nada a ver, mas que juntos formavam uma coisa boa de aproveitar. Pena que pra você faltou sal.

ps: ainda tem um monte de blusinha sua aqui em casa, se um dia quiser vir buscar você sabe como me achar.
tchau.

Está é mais uma crônica escrita por Letícia Wexell. Você pode encontrar todas elas clicando aqui.

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