O ano novo já chegou e com ele as listas de Melhores Jogos do Ano começam a pipocar pelas redes sociais; Algumas com opiniões bem diferentes e que ajudam a relembrar jogos que foram um tanto esquecidos em 2017. Aqui, no Dropando Ideias, os requisitos para entrar na lista de melhores games do ano são poucas: eu tenho que ter jogado e tenho que ter gostado muito. E pronto, aqui estamos!
Este ano eu me aproximei mais ainda dos videogames, que era algo que venho fazendo gradativamente desde 2015. Muito disso se deu pelos trabalhos que fiz esse ano na área de criação de conteúdo sobre o tema. Meu canal segue crescendo, eu trabalhei com a @FláviaGasi, entrei no grupo de estudos Jogos Digitais e Imaginário, comecei um podcast na Vice sobre games junto com os lindos Pedro Falcão e o Bruno Izidro, fiz uma penca de freelas por aí e sigo produzindo coisas em diversos lugares. Inclusive, a NEWSLETTER do blog vai entregar quinzenalmente links de conteúdos sobre videogame e geekices incríveis que eu uso para estudo. Se quiser receber é só se inscrever aqui.
Os melhores games
Mas sem mais enrolações, vamos para o assunto principal do post: Os meus 5 melhores games de 2017! Vale lembrar que eles não estão ranqueados ou ordenados de nenhuma forma específica, e que está lista fala mais sobre a minha experiencia do que sobre a qualidade dos jogos em si.
Night In The Woods
O ano começou com um indie um tanto esquisito e misterioso. Eu me identifiquei tanto com a Mae que chegou a ser estranho acompanhar a trajetória dela depois de um certo ponto. É um jogo bem devagar, cheio de minigames e com foco na narrativa, mas que trata de temas profundos como depressão e amadurecimento de uma forma que desconforta o jogador – mas de uma forma boa e educativa.
Mae – a garota-gata – é um pouco rebelde, cheia de paranoias e adora quebrar coisas com um taco de baseball. Ela desistiu da faculdade a pouco tempo, e retorna a casa dos pais para seguir a vida – talvez trabalhando na cidade? Talvez fazendo outra coisa?; O problema é que ela não é mais uma adolescente, mas também não é adulta, e não consegue mais se encontrar nela mesma.
Eu me sinto assim muitas vezes. Muitas vezes mesmo. Falta menos de um mês para eu fazer 20 anos, mas eu sinceramente ainda me sinto a mesma garota de 12 anos que virava a noite jogando e tomando café. Crescer é difícil. Envelhecer é difícil. Viver é difícil. Night In The Woods fala sobre tudo isso em mais ou menos 10 horas e meia de gameplay e desencadeou algumas crises existenciais em mim. Crises boas, que se resolve como um puzzle visualizado por outro ângulo.
Horizon Zero Dawn
Eu falei um pouco de Horizon Zero Dawn no Poligonal, o podcast de games da Vice Brasil do qual faço parte. Mas, de qualquer forma, Horizon me conquistou logo de cara por uma coisa extremamente importante e necessária na nossa sociedade: robôs dinossauros. Sim, robôs dinossauros. Eles são lindos, fortes, e da até para montar em alguns. Algum tempo depois de comprar o jogo eu descobri de alguns desses mesmos dinossauros haviam sido feitos por brasileiros (inclusive, isso também virou um episódio do Poligonal), e me apaixonei mais ainda.
Screenshot: twitter
Horizon é um AAA bem AAA. Tem ação, gráficos lindos, batalhas bacanas e um mundo aberto interessante. Eu esperava mais dele em um monte de sentidos, mas ele não deixou de ser um dos meus favoritos do ano por isso. É que em 2017 eu comecei a estudar videogames academicamente, e além da Teoria do Imaginário de Gilbert Durand – que eu estudo no Jogos Digitais e Imaginário – conheci a Jornada da Heroína, que é parecida com a Jornada do Herói, mas foi feita por uma aprendiz do Campbell para criar personagens femininas que fizessem sentido. A personagem principal de Horizon Zero Dawn ser uma mulher já me deixar muito feliz, mas a questão é que a trama de Aloy se encaixa perfeitamente na Jornada da Heroína. Isso fez com que eu pesquisasse bastante sobre o tema e fizesse várias análises sobre a narrativa enquanto jogava, e tudo ficou mais divertido ainda.
Hellblade: Senua’s Sacrifice
O “indie AAA” do ano, e que nos levou a discussões sobre o que é um jogo indie (e consequentemente o que é um triple A), e como lidar com transtornos mentais como depressão e esquizofrenia. Senua é a personagem principal da história, uma guerreira traumatizada por uma invasão viking violenta à sua tribo que ouve vozes e vê coisas. Jogar com um fones de ouvido é essencial para extrair o máximo da experiencia de o que é viver com esse tipo de transtorno; o que, logicamente, não é muito agradável. Eu sei que não sou nenhuma boa comparação quando se trata de ter medo (sou muito medrosa), mas esse jogo me assustou menos do que eu achei que assustaria.
Não é segredo para ninguém de que eu tenho meus problemas mentais e que eles me fazem muito mal. Apesar deles não serem tão pesados quanto o da Senua, não foi difícil para mim me identificar com a personagem. Eu tenho meus momentos onde duvido da minha sanidade completamente, e entrar na mente de Senua é tão assustador quanto entrar na minha própria cabeça em um dia ruim. Eu joguei Hellblade: Senua’s Sacrifice numa das épocas em que mais tive crises em 2017, e não me arrependo; mas vale avisar que este é um jogo cheio de gatilhos.
Tratando também sobre o seu desenvolvimento, acho legal notarmos que uma equipe de psicólogos e psiquiatras foi contratada para ajudar a fazer com que a doença de Senua fosse o mais próxima o possível de o que é ter essas doenças de verdade. Muita coisa dos transtornos mentais é tão subjetiva e tão intima que é difícil transpor para um game.
Gostaria de compartilhar também o review do blog OneOddGamerGirl: uma moça surda e esquizofrênica que jogou e analizou Hellblade. Vale a leitura, apesar de ser uma opinião e experiencia totalmente diferente dá da maioria dos jogadores sobre um dos melhores games de 2017.
Persona 5
O primeiro Persona a gente nunca esquece!, foi o que me disseram. Esse é facilmente um dos melhores games do ano: as mecânicas, os personagens, as músicas, os gráficos e a história são maravilhosos. É um conjunto de coisas incríveis e legais que me fez passar horas e horas na frente do console. Ainda por cima, sendo a otaku que eu sou, toda a cultura e vivência japonesa nesse jogo me animaram ainda mais. Tem como não se apaixonar pelo rua pouco movimentada e cheia de detalhes casa do Joker?
Eu fiquei muito viciada. Confesso que até deixei de lado um pouco o canal nessa época para ficar jogando… O fato de Persona ter algumas mecânicas de datesim – você pode pegar quase todas as meninas do jogo, olha só – também me cativou bastante. O mais cansativo eram as batalhas – por Odin, como era cansativo passar por todos os castelos e por todas as lutas que pareciam cada vez mais iguais -, que encheram o saco totalmente em certo momento e eu passei a usar o “modo rápido” constantemente. Podem confiscar minha carteirinha gamer, eu não me arrependo! Persona 5 é um must play, mesmo com alguns probleminhas (como todo jogo ¯\_(ツ)_/¯).
Bury Me, My Love
Pegue seu lencinho, este é um jogo que definitivamente vai te fazer chorar. Toda a questão da guerra na Síria e os conflitos no Oriente Médio são temas que mexem muito comigo de uma forma meio estranha – parece mais do que empatia, eu não sei explicar.
Por isso, quando o Falcão me recomendou o jogo e disse, entre um gole de café e outro no escritório da Vice, “É sobre uma Síria refugiada”, eu não exitei em compra-lo. Comecei a jogar assim que cheguei em casa, e terminei uma “partida” poucas horas depois usando o modo de jogo rápido.
O jogo simula uma conversa de Whatsapp entre você e sua esposa, Nour. Ambos são Sírios vivendo em meio a guerra, até que Nour decide sair do país e buscar refugio em outro lugar. A jornada é complicada, e cada mensagem que você envia a Nour influencia em suas decisões durante a viagem. Eu terminei o jogo algumas várias vezes – umas com finais bons, outros nem tanto assim.
Aparentemente diversos acontecimentos do jogo são baseados em fatos reais do conflito, e é possível ver em um mapa diversas informações sobre a guerra e as cidades por onde Nour passa. Se você escolher jogar usando o modo “tempo real” essa experiencia é ainda mais aprofundada – você tem que esperar horas pelas respostas da Nour, jogando como se aquilo estivesse mesmo acontecendo – e é ainda mais preocupante. Sua esposa some por dias, e a última notícia que você tem dela é que ela estava atravessando uma fronteira a noite só com uma lanterna e uma mochila. É algo muito pesado e que retrata a vivência de refugiados de um jeito que é impossível não se emocionar.
Desculpa Nour… Desculpa :((((( foi tudo culpa minha 😭 pic.twitter.com/nGni2bmmqt
— Letícia Wexell (@Leticinios) 27 de novembro de 2017