Daria pra fazer uma lista enorme com todas as coisas que você queria realizar e ainda não chegou nem perto. Ou talvez, que ainda nem começou a colocar em prática… Os sonhos vão se acumulando e a frustração aumenta, e é obvio que se comparar acaba sendo inevitável, mesmo nas coisas pequenas.
E aquela sua amiga que já está começando a trabalhar e ganhar bem? E o outro que juntou grana para viajar por dois anos pela Europa? Lembra da sua prima do interior? Ela está indo estudar fora com bolsa… E aí até mesmo as pessoas distantes que você nem conhece viram passíveis de comparação: aquela garota tem a sua idade e tem um canal com um milhão de fãs e já construiu uma casa, o outro ganhou um prêmio de astronomia, e semana passada você viu uma matéria sobre dez empreendedores com menos de 25 anos que já fizeram o primeiro milhão.
Ou vai ver você só queria paz interior e alguma estabilidade. Voltar no tempo e fazer tudo diferente parece mais fácil do que tornar-se feliz agora e daqui pra frente. A gente nunca esta satisfeito – e talvez a gente nunca fique? – e vive num eterno “e se”. Não é fácil.
Quando criança a gente sempre escuta que pode chegar aonde quiser se si esforçar e continuar acreditando, e é um choque quando a ~vida adulta~ chega e não é tão simples assim… Sucesso, independente de qual, as vezes depende de um pouco de sorte e oportunidade, e perceber isso é maldoso, arde tipo mertiolate, faz chorar.
Acho que é por me sentir assim que parei pra escrever agora. Escrever sobre algo me da uma visão periférica da situação que sempre me ajuda a lidar melhor com ela, e o grande problema dessa sensação de nunca ser bom o bastante ou o melhor em algo é justamente que a gente não se enxerga.
A gente nunca olha para o igual, a comparação nunca é feita com aquilo que está a altura dos nossos olhos. Olhamos para quem já está no topo, lá em cima, com muito tempo de jornada (ou muita sorte). E isso é sufocante porque sempre sabemos que o outro tem uma vista melhor mas nunca entendemos como ele chegou lá. É um ciclo vicioso de olhar para o outro, ficar mal, olhar-se negativamente e repete. Só que isso não é produtivo, nem para si nem para o outro.
“Que coisa mais traiçoeira acreditar que uma pessoa é mais do que uma pessoa.” Coloca-la num pedestal inalcançável que as força a sempre ser mais e mais e mais; e nos joga para baixo, imaginando que nunca poderemos ser como elas – ou estar com elas -, por não sermos bons o bastante.
Sempre há algo que fazemos melhor que alguém, e sempre tem alguém que faz algo melhor que nós. Acho até representar o sucesso como uma escada a ser escalada seja errado, e o ideal seria uma pista de corrida circular; aonde aquela mesma pessoa que está a nossa frente num aspecto está à nossas costas em outro.
Precisamos ter mais piedade de nós mesmos e dos outros, precisamos seguir parâmetros reais. Precisamos, acima de tudo, lembrar que somos apenas pessoas. E nada mais.