Vampiros, lobisomens e fadas: como eu me apaixonei por RPG de mesa no século 21 - Dropando Ideias

Vampiros, lobisomens e fadas: como eu me apaixonei por RPG de mesa no século 21

Há quem diga que RPG é coisa dos anos 80. Mas daí eu me apaixonei por um gótico...

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    Isso não é uma crônica e nem um post-lista com motivos para você jogar RPG de mesa. Não. Isso é um pedido de socorro de uma jovem que se enfiou meio a fundo demais em um hobby bastante nerd e se perdeu no meio do caminho tentando responder uma simples pergunta. Tudo por causa de um gótico cabeludo que ela chama de namorado, que depois de muita insistência a convenceu de jogar o tal jogo.

    Tenho pensando bastante sobre RPG de mesa, narrativas e as formas que a gente inventa de contar histórias e também de vivê-las enquanto humanos. Essa não é uma análise acadêmica, mas existe uma diferença visível entre consumir histórias que precisam ativamente da participação do espectador e consumir as que não. RPG de mesa está, obviamente, no primeiro grupo; e justamente por isso acabou me causando – assim como os videogames – um certo fascínio depois que eu comecei a realmente participar disso.

    Lógico, não sou nenhuma especialista. Minha experiência com RPGs de Mesa não é maior do que algumas mesas jogadas, uma boa quantidade de personagens esquecidos na gaveta, um ou dois livros lidos e vários plays em vídeos do Youtube explicando os detalhes horripilantes e sórdidos dos conflitos entre personagens. Mesmo assim, acho engraçado notar como parece ter acontecido uma espécie de revival dos RPGs de mesa nos últimos anos; algo que você também deve ter percebido, caro leitor.

    Eddie, de Stranger Things, mestrando D&D

    A estética em Stranger Things, o sucesso de lives como a do Cellbit, e talvez até o confinamento na pandemia onde ficamos presos em casa com nossos computadores tenham algo a ver com isso. Para além disso, temos RPGs medievais como Tormenta20 com um boom de sucesso intrigante, e novas edições de Vampiro A Máscara chegando ao Brasil em diagramações lindas. Ta aí uma boa dissertação de mestrado para algum geek da comunicação que tenha tempo de entender isso tudo.

    Mas, para explicar realmente como eu me sinto sobre isso tudo, eu acho que o melhor é contar uma história mesmo.

    🪄 Como se desperta um Mago?

    Era um sábado ou domingo a noite. São Paulo e suas estações de metrô já estavam quietas e vazias pelos horário, e logo mais o último trem passaria na estação onde esperávamos. Ou aquilo era uma ótima ideia, ou uma completa maluquice, considerando que meu namorado tinha realmente me convencido a ir em um RPG de mesa presencialmente na casa de uma pessoa que ele não conhecia, há umas três horas de distância de casa. Eu não ia jogar, ia só assistir. O vento da madrugada passava correndo por cima dos trilhos.

    “Você já sabe como vai ser a história?”, perguntei quebrando o silêncio. Meu namorado fez que não. Apesar de seguir as regras e lógicas de Mago: A Ascensão – um dos livros do mundo de World of Darkness, de fantasia urbana -, essa mesa alterava alguns acontecimentos e histórias para se encaixar em uma narrativa específica que mestre e jogadores queriam participar.

    Jobu Tupaki, Maga com esferas de entropia (Everything Everywhere All At Once Everything)
    Jobu Tupaki, Maga com esferas de entropia (Everything Everywhere All At Once Everything)

    Durante todas as vezes que acompanhei meu namorado para jogar RPG o sono foi mais forte que eu. Mal a mesa começava, eu caia em um canto qualquer da casa de um desconhecido e adormecia por quatro ou cinco horas, até que os trens voltassem a funcionar e a sessão acabasse para a gente ir para casa. Enquanto dormia, eu sonhava com os personagens que estavam literalmente a minha volta, como jogadores. Uma aventura psicodélica sobre pessoas com poderes mágicos, todos com visões bem diferentes do que seria magia, assim como no mundo real. Depois, eu aprenderia que os Magos eram só uma das facetas desse mundo maluco.

    Um dia, eu não dormi quando a mesa começou.

    🖤 Só os maus bebem sangue de Vampiro

    Os meses foram se passando, e a minha curiosidade só aumentava. Se você já viu alguém que você ama falando sobre algo que gosta com toda sinceridade do mundo, vai saber o que estou dizendo. Os olhos brilhando e a animação infantil de falar sobre aquilo… Durante a pandemia, meus dias foram ficando cada vez mais recheados de histórias de World of Darkness. Meu namorado me contava os segredos dos conflitos entre clãs como se contasse uma fofoca quente e urgente, animado pela oportunidade de uma nova mesa que ele havia encontrado em um grupo ou post.

    Para suas histórias, eu tinha perguntas. Quem criou os Vampiros desse mundo? E o que acontece se um vampiro beber o sangue de um Mago? Um lobisomem pode se tornar um vampiro? E as Múmias nisso tudo, meu deus?! O que ele sabia, me contava. Feliz por compartilhar com alguém no seu dia a dia esse hobby que agora era nosso.

    Edward Cullen, um Toreador viciado na Bella
    Edward Cullen, um Toreador viciado na Bella

    O Vampiro de World of Darkness abriu mais uma porta estranha da curiosidade humana em mim. Essa imagética tão bem difundida e espalhada pela sociedade ocidental parecia merecer mais atenção do que se é dado atualmente. A última coisa super famosa de vampiros que eu me lembro de ver foi Crepúsculo, e não perdemos tempo de fazer uma maratona dos filmes. (Você sabia que o Volturi são Ventrues?)

    Devo dizer, caro leitor, que é aqui que a toca do coelho começa a ficar longe demais da luz do sol. Quando minha mente maluca viu a ligação óbvia entre o romance de Crepúsculo com sua divisão de clãs, e Vampiro A Máscara com suas seitas e coteries, eu tive certeza: há espaço para o romance em RPGs de mesa também.

    🌈 Uma Fada me disse que você pode pintar um quadro?

    Meu namorado fazia o máximo para responder minhas perguntas sedentas por AMOR em World of Darkess: Podem um Vampiro e um Lobisomem namorarem? O que acontece se um Mago tentar catar uma Fada? Múmias podem ter filhos?! Mas seu conhecimento, infelizmente, era limitado demais. Além disso, os jogadores de WoD (em sua maioria, homens que começaram a jogar nos anos 90) pareciam não conseguir ver o potencial latente de se contar histórias que envolviam romance e amores proibidos em suas mesas. Mas, como boa amante de um melodrama adolescente, eu estava determinada.

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    Uma nerdola deve ser capaz de ir atrás de suas próprias nerdices, pensei. (Não com essas palavras) E resolvi que eu era a única que poderia responder minhas dúvidas. Talvez eu fosse a única no mundo com os mesmos gostos por romances adolescentes clichês com arcos de enemies-to-lovers, livros de hot com vampiros, e RPGs de mesa de fantasia urbana com demônios. Talvez não houvesse para quem fazer as perguntas, e sim para o que.

    Lulu, uma Changeling

    Revirei a internet e enumerei os livros do mundo de World of Darkness que mais pareciam propensos a me responder sobre como se davam e onde estavam as histórias de amor desse mundo cheio de ódio e intrigas. Me lembrei das aulas que tive com a minha mestre Jedi e amiga com doutorado Flávia Gasi, e nas vezes onde falamos por acaso, há alguns anos atrás, sobre Changeling: O Sonhar.

    Buscar conhecimento no mundo das Fadas parecia realmente a jogada óbvia. Entre os Vampiros gelados, os Lobisomens violentos, os Magos ambiciosos e outras tantas criaturas, Fadas pareceram uma opção mais gentil a esse mundo, e talvez fossem exatamente quem escondiam as verdades sobre o amor.

    Ler Changeling foi uma aventura e tanto, mas não me trouxe as respostas que eu queria. Pelo contrário: assim como aqueles que seguem as fadas em uma floresta achando estarem entrando em uma grande aventura, eu também me senti enganada. Parecia que eu estava perdida, e minha busca também. Tantos vídeos, páginas e perguntas em diferentes Reddits da vida, e eu não tinha o que queria. Conseguiria jogar uma mesa como uma Changeling, mas apenas uma com tanta dor e sofrimento como eu já tinha visto por aí.

    🤝 Um pacto com um Demônio é uma espécie de casamento

    Foi com essa desesperança que eu me agarrei a meu último ponto de força de vontade para decidir mestrar uma mesa em casa, para apenas uma única pessoa. “Escolha um jogo qualquer de Mundo das Trevas, de sua escolha, e eu vou estudar e então mestrar uma história só para você”, eu disse a meu namorado. Ele estava frustrado por não estar achando nenhuma mesa com vaga há meses, e eu frustrada por não entender porque o romance era tão deixado de lado nas histórias. Demônio: A Queda, então. Temos o livro aqui em casa, inclusive”, respondeu. “Não sei nada sobre o jogo, vai ser divertido ver você me contar dessa vez.

    Ter uma cópia do livro de Demônio: A Queda, física, em casa, foi realmente o que me salvou nessa próxima etapa da busca. Apesar da temática forte, Demônio está entre os jogos esquecidos de World of Darkness, com bem menos informação do que seus irmãos mais velhos. Tudo o que eu encontrava online eram mesas e histórias sobre criaturas ultra-poderosas que se apossavam de corpos humanos para enganar a humanidade em busca de poder. Algumas delas chegavam a ser realmente assustadoras para mim, como jogadora, contendo temáticas extremante pesadas e grotescas. Eu estava pronta para encontrar uma história de horrores e vilania – e encontrei -, e me sentei no meu escritório pronta para entender o que se passava na cabeça de um demônio encarnado.

    Lúcifer comendo panqucas em Helltaker, um jogo sobre demônios apaixonados

    Cinco horas se passaram quando dei por mim. Minha terceira xícara de café estava fria, repousando sobre a mesa em um porta copos cor-de-rosa. Notei uma mancha na folha, por cima das palavras, e passei o dedo para limpa-la. Eu estava chorando. Sequei o rosto com as mangas do casaco e notei que já estava escuro. Estava chorando por ter me emocionado por uma história singela e fofa em um livro sobre horror.

    Comecei a rir. Eu tinha achado minhas respostas, onde menos esperava.

    ❤️‍🔥 O que vem depois, afinal?

    Caro leitor, sinto-lhe informar que apesar de ter recebido a minha resposta, eu ainda não tenho uma resposta para te dar. Vampiros, Demônios, Magos e tantos mais fazem parte de narrativas muito mais velhas e intrigantes do que a minha jornada simples por elas através do RPG. A humanidade não deixaria de colocar boas histórias de amor e ódio nos roleplaying games, e há mais a se saber sobre o tema do que uma simples blogueira pode explicar aqui.

    Com isso tudo, o que quero dizer é que: 1. pode haver coisas bonitas mesmo onde a gente acha que não há, 2. continuem curiosos, mesmo que seja sobre coisas bobas como um RPG de mesa e, 3. não deixe ninguém te dizer que uma vampira e um lobisomem não poderiam formam um belo casal.

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